sábado, 18 de setembro de 2010

O filho que eu quero ter


É comum agente sonhar, eu sei, quando vem o entardecer. 
Pois eu também dei de sonhar, um sonho lindo de morrer. 
Vejo um berço, e nele eu me debruçar, com um pranto a me correr. 
E assim, chorando, acalentar, o filho que eu quero ter. 
Dorme meu pequenininho, dorme que a noite já vem. 
Teu pai está muito sozinho, com tanto amor que ele tem. 
De repente o vejo se transformar, num menino igual a mim.
Que vem correndo me beijar, quando eu chegar, lá de onde eu vim. 
Um menino sempre a me perguntar, um porquê que não tem fim. 
Um filho a quem só queira bem, e a quem só diga sim. 
Dorme menino levado, dorme que a vida já vem. 
Teu pai está muito cansado, de tanta dor que ele tem. 
Quando a vida, enfim, quiser me levar, pelo tanto que me deu. 
Sentir-lhe a barba me roçar, no derradeiro beijo seu.  
E ao sentir também sua mão vedar, meu olhar dos olhos seus. 
Ouvir-lhe a voz a me embalar, num acalanto de adeus. 
Dorme meu pai sem cuidado, dorme que ao entardecer, 
teu filho sonha acordado, com o filho que ele quer ter.

Vinicius de Moraes  

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