Pois eu também dei de sonhar, um sonho lindo de morrer.
Vejo um berço, e nele eu me debruçar, com um pranto a me correr.
E assim, chorando, acalentar, o filho que eu quero ter.
Dorme meu pequenininho, dorme que a noite já vem.
Teu pai está muito sozinho, com tanto amor que ele tem.
De repente o vejo se transformar, num menino igual a mim.
Que vem correndo me beijar, quando eu chegar, lá de onde eu vim.
Um menino sempre a me perguntar, um porquê que não tem fim.
Um filho a quem só queira bem, e a quem só diga sim.
Dorme menino levado, dorme que a vida já vem.
Teu pai está muito cansado, de tanta dor que ele tem.
Quando a vida, enfim, quiser me levar, pelo tanto que me deu.
Sentir-lhe a barba me roçar, no derradeiro beijo seu.
E ao sentir também sua mão vedar, meu olhar dos olhos seus.
Ouvir-lhe a voz a me embalar, num acalanto de adeus.
Dorme meu pai sem cuidado, dorme que ao entardecer,
teu filho sonha acordado, com o filho que ele quer ter.
Vinicius de Moraes ♪
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