segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Cappuccino

Ela andava na rua, triste, no frio, indiferente à tudo. Uma garoa fina caia, e o dia estava ridiculamente cinza. Com o andar rápido, não ia a lugar nenhum. Viu uma loja de tortas que parecia aconchegante, era o que ela precisava: um cappuccino fresquinho para colocar as idéias no lugar. Não pensou duas vezes, entrou. Nem o seu jeito enfático chamou a atenção das pessoas ao redor, ninguém se moveu. Era tudo cinza lá dentro também, mas era quente, por isso permaneceu ali. Os cheiros dos diferentes tipos de cafés servidos, e os doces na vitrine, convidativos. Sentou-se em uma das mesas de toalhas xadrez desbotadas e escolheu um cappuccino francês com muito chantilly. Enquanto esperava seu pedido, observava as pessoas afundadas em seus jornais, lendo as mesmas notícias de violência com aquele mesmo olhar de quem lê horóscopo, inexpressível. Era assim que acontecia, todos conformados, ela pensou. Mas assim que chegou o seu cappuccino, coberto com todo aquele chantilly derretendo, ela esqueceu de tudo. E quando o paladar pode sentir o gosto daquele delicioso café com chocolate, ela se sentiu como se não tivesse mais nada com que se preocupar. Esqueceu até os próprios problemas que a faziam andar na rua naquele dia frio, de garoa, problemas que ela julgava serem maiores que o mundo. Enquanto bebia lentamente o cappuccino pensava como não tinha graça viver. Não tinha as roupas ou o celular que desejava, brigava com os pais porque os mesmos não deixavam voltar tarde das festas, só tinha amores não correspondidos, que só a deixavam triste. Mas logo algo a tirou do seu mundinho imperfeito: pequenas mãozinhas com unhas sujas, e um pacote de jujubas. Quando viu as mãos, observou tudo: os chinelos quase soltando, a roupa surrada e úmida, os olhos. Os olhos brilhantes da criança, de súplica. Encarou por um segundo os olhos, como se alguma coisa a tivesse despertado para o mundo real, onde os problemas das pessoas vão muito além e brigas os pais e preço de celular. Ali, na sua frente, viu a realidade, vendendo nada menos do que jujubas, como que se desculpando porque estava tentando sobreviver.
Ela não comprou as jujubas. Não pode.
No ápice da explosão de sentimentos abraçou o menino, que assustado, hesitou por um momento, mas relaxou.  Uma cena de compaixão e amor, onde duas pessoas ganhavam o que queriam. A menina percebeu que os seus problemas não são os únicos, e muitas vezes, pequenos comparados ao das outras pessoas. O menino, aprendeu que apesar de tudo não se pode deixar de ter amor na vida.
Quando ela soltou o menino, o brilho nos olhos não eram mais de culpa, e sim de esperança.
A garota saiu do café, pagou um pro menino, apressadamente, e mesmo com a garoa, o dia não parecia mais cinza.
O garoto de relance sorriu. Não vendeu jujubas, vendeu realidade.

Um comentário:

  1. Nossa voce escreve bem,porque nao escrever um livro?Voce tem muito talento em....Voce sabe que escrever algo nao e apenas usar palavras para descrever uma ideia,escrever um livro e viajar no infinito de nossa mente e nosso espirito juntando vemos que estamos ali com o texto pronto e acabamos propondo o que quizemos do jeito certo...sentindo.Entao quem sabe caso vc queira ,vamos escrever um livro.SO nao falo quem sou pois saberia que mesmo querendo me ouvir voce nao ia aceitar,talvez,por enquanto e so isso.Talvvez no futuro poderei me indentificar.NAO SOU PEDOFILO!

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