sexta-feira, 25 de junho de 2010

Bolinhos de mandioca

É que a gente se pega em uma tarde de sábado rindo sozinha na cozinha lembrando daquele cheiro. E aquele determinado cheiro - dos bolinhos de mandioca da minha vó! - me transporta para outro tempo, um filme vai passando pela minha cabeça, meio embaçado, sem muita nitidez - como os filmes costumavam ser naquela época - e tocando no fundo, aquela música da Norah Jones, que ninguém daqui deve saber, mas se chama Seven Years. Durante o filme, me vejo garota, bem pequenininha, só de meias, sentada na mesa de madeira toda detalhada, balançando os pezinhos  à espera da vovó, que mexia vagarosamente a mistura do bolo - sem muita mais força para mexer mais rápido. Tudo ali, a cozinha, as meias, a vovó, o bolo, parece tão aconchegante e feliz, e eu continuo ali, me balançando, como se a minha maior preocupação fosse os bolinhos de mandioca.
E assim as tardes iam, as tardes que nunca (NUNCA!) eram vazias, preenchidas com a sessão da tarde, as sonecas, Nescau com pão, brincadeiras e brigas com o irmão, pés totalmente sujos, e joelhos ralados.
Os domingos eram outra maravilha. Pareciam ser sempre dias ensolarados, mesmo os que choviam. E aquele almoço? Que toda a família comparecia e cada um trazia a sua especialidade- pure de batatas, frango com milho, feijão petro novinho. As tias tagarelas, os primos se acotovelando sobre a mesa, a avó corpulenta e sorridente, feliz da vida de ver a casa cheia, o vô meio quieto, as vezes com uma cara de bravo, mas que por dentro, estava adorando tudo aquilo.
E agora nos sábados, eu fico na frente do computador a tarde praticamente inteira, como em um restaurante nas comerciais, e as vezes me pego rindo ao sentir aquele cheiro de bolo de mandioca. Aquele cheiro que era algo como minha família.
E dá aquela vontade incontrolável de rir e de chorar ao mesmo tempo, porque amanha seria o domingo-na-casa-da-vó, e agente não pode mais ir para o quintal brincar de pique-esconde e se sujar todo na grama, ralar toda a perna, e passar methiolate no joelho, mesmo doendo, porque methiolate ardia naquela época. Agente é adolescente agora, não me lembro desde quando, mas é isso agora, mesmo sendo horrível, não temos mais quintal e sessões-da-tarde. Só de vez em quando, para não ser totalmente injusta.
É tudo um filme  embaçado, ao som de Norah Jones.

Mariana F.

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